sexta-feira, 9 de abril de 2021

"Desencanto" - Poema de Manuel Bandeira



Charles James Mccall (Scottish, 1907 - 1989), A Winter's stroll, 1962 
 
 
Desencanto 

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
– Eu faço versos como quem morre.

Teresópolis, 1912

Manuel Bandeira
,
A Cinza das Horas, 1917


 
Charles James McCall, London Street, 1954
 
 
Velha cidade silenciosa…
O perfume das flores flutuando
e à noite um sino a cantar. 
 
(Haicai / Haikai / Haiku)
 
 

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