sábado, 3 de abril de 2021

"Belo Belo" - Poema de Manuel Bandeira


Franz Dvorak or Franz Bruner, In the Orchard, 1912

 
Belo Belo


Belo belo minha bela
Tenho tudo que não quero
Não tenho nada que quero
Não quero óculos nem tosse
Nem obrigação de voto
Quero quero
Quero a solidão dos píncaros
A água da fonte escondida
A rosa que floresceu
Sobre a escarpa inacessível
A luz da primeira estrela
Piscando no lusco-fusco
Quero quero
Quero dar a volta ao mundo
Só num navio de vela
Quero rever Pernambuco
Quero ver Bagdá e Cusco
Quero quero
Quero o moreno de Estela
Quero a brancura de Elisa
Quero a saliva de Bela
Quero as sardas de Adalgisa
Quero quero tanta coisa
Belo belo
Mas basta de lero-lero
Vida noves fora zero.

Petrópolis, fevereiro de 1947

Manuel Bandeira,
in 'Estrela da Vida Inteira'
Ed. Nova Fronteira 
 

Franz Dvorak (1862-1927), The Angel of the Birds, 1910
 

Primavera

Borboletas e
aves agitam voo:
nuvem de flores.
 
 (Haicai / Haikai / Haiku)

Sem comentários: