A Catedral
Entre brumas, ao longe, surge a aurora.
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu risonho,
Toda branca de sol.
E o sino canta em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
Recebe a bênção de Jesus.
E o sino clama em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Põe-se a lua a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu tristonho,
Toda branca de luar.
E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
O céu é todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem açoitar o rosto meu.
E a catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.
E o sino geme em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu risonho,
Toda branca de sol.
E o sino canta em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
Recebe a bênção de Jesus.
E o sino clama em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Põe-se a lua a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu tristonho,
Toda branca de luar.
E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
O céu é todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem açoitar o rosto meu.
E a catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.
E o sino geme em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
14 de julho de 1914
Poema originalmente publicado no periódico 'Vida de Minas'
(Belo Horizonte, 30 set. 1915)
(1870 – 1921)
Poeta e jurista brasileiro, Alphonsus de
Guimaraens, nome literário de Afonso Henriques da Costa Guimarães,
nasceu a 24 de julho de 1870, em Ouro Preto, Minas Gerais (Brasil).
Concluiu os seus estudos em Ouro Preto e matriculou-se, em 1887, em Engenharia. Aos 18 anos, a sua prima e noiva Constança morreu, o que o marcou profundamente.
Em 1891, inscreveu-se no Curso de Direito da Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo. Colaborou com a imprensa paulista e contactou com jovens simbolistas. Em 1895, em viagem ao Rio de Janeiro, conheceu o grande simbolista Cruz e Sousa. Após a conclusão do curso em 1895, regressa a Minas Gerais, casa-se em 1897 com Zenaide de Oliveira, de quem teve 14 filhos e é nomeado juiz, na cidade de Mariana, em 1906.
Quanto à sua obra literária, Alphonsus de Guimaraens escreveu os livros de poesia Sentenário das Dores de Nossa Senhora (1899), Câmara Ardente (1899), Dona Mística (1899), Kyriale (1902), Pauvre Lyre (1921), Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte (1923) e o livro de prosa Mendigos (1920).
A sua obra, influenciada por Verlaine e Mallarmé, é marcada por um lirismo místico, em que Constança,
a amada perdida, está sempre presente. Para além do misticismo, a morte
e o amor são temáticas essenciais na poesia de Guimaraens. Esta,
constituída por uma linguagem simples, cheia de aliterações e
sinestesias, apresenta maior sucesso quando é utilizada na forma de
soneto.
A 15 de julho de 1921, Alphonsus de Guimaraens, uma das figuras principais do movimento simbolista brasileiro, morreu em Mariana, Minas Gerais.
Numa iniciativa do Ministério da Educação, toda a obra poética de Alphonsus de Guimaraens foi publicada em 1938, numa edição revista e dirigida por Manuel Bandeira. (Daqui)
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