Morte no Interrogatório
Às três da madrugada eu dormia sem sonhos
Minha mulher dormia a meu lado.
Eu tinha uma das mãos pousada sobre a sua coxa
Um luar de outono brilhava sobre as ruas
um ar agreste preparava as noites para o inverno
Minha mulher dormia a meu lado.
Eu tinha uma das mãos pousada sobre a sua coxa
Um luar de outono brilhava sobre as ruas
um ar agreste preparava as noites para o inverno
Às três da madrugada os companheiros
dormiam quase todos.
Um deles, porém regressava, fatigado,
de um trabalho noturno
Era a hora dos fogos-fátuos sobre as campas;
a hora em que os exilados buscam o sono em comprimidos.
dormiam quase todos.
Um deles, porém regressava, fatigado,
de um trabalho noturno
Era a hora dos fogos-fátuos sobre as campas;
a hora em que os exilados buscam o sono em comprimidos.
Às três da madrugada sua mulher ainda velava.
Embrulhada num xaile tinha um livro entre as mãos;
insone, acendera a luz havia meia hora.
Na sala o interrogatório atravessava o tempo;
lâmpadas de mil vátios tornavam a vida irrespirável.
Embrulhada num xaile tinha um livro entre as mãos;
insone, acendera a luz havia meia hora.
Na sala o interrogatório atravessava o tempo;
lâmpadas de mil vátios tornavam a vida irrespirável.
Às três da madrugada o coração fraquejou
e os dois comissários ficaram perante um homem morto
e dois cinzeiros com trinta pontas de cigarros.
e os dois comissários ficaram perante um homem morto
e dois cinzeiros com trinta pontas de cigarros.
Segunda Guerra Mundial
A Segunda Guerra Mundial foi gerada a partir dos erros e imperfeições do
Tratado de Versalhes, pelos efeitos nocivos da crise de 1929 e pelo
conflito ideológico em torno das rivalidades entre o fascismo, por um
lado, e os regimes democratas e o comunismo por outro. Neste conflito à
escala do mundo, foram utilizados meios de destruição nunca vistos, como
a bomba atómica, numa verdadeira guerra total que teve graves repercussões a vários níveis.
Na
Primeira Guerra Mundial as responsabilidades do conflito bélico foram
mais ou menos repartidas pelos seus intervenientes, enquanto que na
Segunda Guerra Mundial a responsabilidade é indubitavelmente atribuída
às ambições imperialistas germânicas e japonesas. Com o desfecho da
Grande Guerra, a Alemanha
ficara numa posição bastante difícil, agravada pela imposição de ter de
pagar as "reparações" da guerra e por sofrer diretamente os efeitos da
crise de 1929.
Este panorama crítico facilitou a adesão dos alemães ao programa político de Adolf Hitler.
Este era um líder político carismático que exigia a revisão do Tratado
de Versalhes, e tinha pretensões para além dos conceitos pangermanistas.
Hitler construiu um discurso, sedutor para muitos alemães, assente na
proclamação da superioridade da raça ariana e num sentimento
profundamente racista, voltado, sobretudo, contra a população judaica.
A superioridade da raça e o antissemitismo eram justificados pelo direito que a Alemanha
reclamava de "alargar o seu espaço vital" ("Lebensraum"), à custa de
territórios de povos considerados inferiores da Europa Central e
Oriental.
O Japão partilhava com a Alemanha
esta ideologia imperialista. Desde a década de 30, o país encontrava-se
sob a dominação do partido militar e procurava obter mercados para a
sua produção em crescendo e facilidades comerciais. Além disso,
pretendia igualmente alargar a sua rede de influências no Pacífico e na
Ásia Oriental. Entre 1931 e 1932 anexou a Manchúria, e em 1937 ocupou-se da conquista da China, vindo a ameaçar as posições inglesas (Singapura, Malásia, Índia,.. .) e americanas no Pacífico.
A Alemanha de Hitler, a Itália
fascista e o império nipónico, apresentavam neste período regimes
políticos com algumas afinidades. Em comum, tinham as preocupações
militaristas e, sobretudo, a antipatia relativamente às potências saídas
vencedoras na luta pela hegemonia dos oceanos.
A criação do eixo Berlim-Roma, a 1 de novembro de 1936, resultou das sanções impostas à Itália pela comunidade internacional, na sequência da Guerra da Etiópia de 1935. Àquela aliança veio a aderir, pouco depois, o Japão.
A Guerra Civil Espanhola, em 1936-1939, foi um dos "palcos" de ensaio da II Guerra Mundial (a par da Áustria, da Manchúria e, em menor grau, da Etiópia). Neste conflito, a Inglaterra, a França e a URSS mostraram-se mais inclinadas para a defesa da fação governamental republicana, enquanto a Alemanha e a Itália
estavam claramente ao lado da fação nacionalista do general Franco, a
quem concederam apoio militar, através do qual puderam testar as armas e
experimentar táticas de guerra.
O líder alemão procurava absorver territórios por tradição germânicos (como a região dos Sudetas, na Checoslováquia), ao passo que o Ocidente Europeu, sobretudo a Inglaterra, estava como que "adormecido" e confiante numa política de concessões que mais não fez do que fortalecer a confiança da Alemanha.
A Inglaterra e a França só despertaram para o problema alemão quando Praga foi ocupada pela Wehrmacht (um exército terrestre alemão). Nesta altura, a URSS tentou uma aproximação com a Alemanha
(Pacto Germano-Soviético de 23 de agosto de 1939), pois considerava a
capacidade de resistência ocidental pouco consistente. Este facto
permitiu a Hitler avançar para a guerra, sem temer entrar em combate em
duas frentes.
A 1 de setembro de 1939, a Wehrmacht avançava sobre a Polónia, e a 3 desse mês a Inglaterra, e depois a França, declaravam guerra ao III Reich.
Entre 1940 e 1941, a II Guerra Mundial entrou na sua primeira fase, denominada "Guerra Relâmpago" ("Blitzkrieg"), na qual a Alemanha
dispunha de preciosas vantagens: uma forte unidade de comando, um líder
carismático próximo do povo, uma já longa e eficiente propaganda, um
exército bem apetrechado e bem treinado que lançou ataques relâmpago, a
partir de tanques e da sua aviação. Esta "blitzkrieg" consistia no
bombardeamento aéreo intensivo dos objetivos e no avanço rápido da
infantaria, protegido pelas eficazes e velozes divisões blindadas -
"Panzer".
A França não tinha capacidade de
resposta a um ataque deste tipo, uma vez que não conhecia uma unidade
política; estava ainda presa a táticas antigas e não dispunha de um
exército e de uma aviação tão poderosas como os alemães. Como reflexo
desta obsolência tático-militar refira-se o facto de Paris
basear a defesa numa estática e ultrapassada linha defensiva concebida
para um conflito como o da I Guerra Mundial: a "linha Maginot".
No espaço do mês de setembro de 1939, a Polónia foi invadida e dividida entre a Alemanha e a União Soviética, sem que a França tivesse tido sequer hipótese de reagir. Entretanto, a URSS atacava a Finlândia, que se revelaria um "osso duro de roer" e inconquistável. Agora as atenções da guerra estavam voltadas para a Escandinávia.
Os alemães ocuparam de seguida a Dinamarca (num só dia!), e atacaram a Noruega
em abril de 1940, obrigando à retirada dos seus inimigos em junho de
1940. Fechavam assim o Atlântico Norte e o báltico aos ingleses e
soviéticos, para além de acederem ao ferro nórdico, tão importante para a
indústria de guerra.
A 14 desse mês, a cidade de Paris
foi tomada pelas forças alemãs, e o governo de Pétain pediu o
Armistício, assinado a 22 de junho, numa altura em que os alemães tinham
já chegado à fronteira com a Espanha. Apenas a França
meridional (à exceção da Aquitânia) ficou livre dos alemães. Na linha
Maginot, nem sequer se chegou a disparar um tiro, pois os alemães
contornaram-na através da invasão das neutrais Bélgica e Holanda, o que surpreendeu a França e indignou o mundo. A chamada "drôle de guerre" ("guerra de brincadeira") revelou-se extremamente amarga para os franceses.
A 10 de julho a Itália juntou-se à Alemanha, e a Inglaterra estava cada vez mais isolada, sobretudo depois da queda da França.
No entanto, sob a forte liderança do Primeiro Ministro britânico
Winston Churchill, erguia-se a resistência. Esta beneficiou de uma
aparente derrota que consistiu na célebre e dramática retirada de
Dunquerque, à primeira vista um desastre para os Aliados, mas que
permitiu a reorganização das forças em solo britânico. Logo então se
verificou a mobilização e apoio da nação inglesa; na retirada, a grande
operação "Dínamo", foram utilizados todos os meios navais possíveis e os
cidadãos ingleses participaram usando os seus barcos de recreio para
evacuar as tropas.
Hitler não pode invadir a
ilha, num primeiro momento, mas procurou continuar a desafiar a sua
moral, através de constantes bombardeamentos.
Na
"Batalha de Inglaterra", travada entre agosto e novembro de 1940,
muitas cidades inglesas, sobretudo as do sul, foram destruídas mas,
apesar disso, a Luftwaffe
(a força aérea alemã) fracassou no seu intento. Os ingleses contavam
com a sua superioridade marítima, e no verão desse ano foram abastecidos
com material de guerra vindo da América do Norte.
Além disso socorreram-se de um novo invento militar extremamente eficaz
e ainda não possuído pelos alemães: o radar, que surpreendeu Hitler e
os seus generais.
Na Líbia os italianos lutavam com os ingleses enquanto as potências do Eixo se ocupavam da reorganização da Europa
segundo as suas conveniências políticas. Mussolini queria mais
protagonismo do que o que lhe era concedido, e por essa razão decidiu
atacar a Grécia em 28 de outubro de 1940; só que, tanto na Grécia como na Líbia, teve de pedir auxílio aos alemães.
Ao mesmo tempo que o Afrikakorps do general Rommel chegava a África, em fevereiro de 1941, a Jugoslávia era invadida pelas divisões blindadas de von Kleist; pouco depois, as de List invadiram a Grécia e Creta.
Nestas operações manifestou-se, mais uma vez, a capacidade inventiva da
máquina de guerra alemã: falamos da intervenção das tropas
aerotransportadas, que já tinham tido imenso sucesso e efeito surpresa
na Holanda e Dinamarca. Com a II Guerra Mundial e pela primeira vez na história dos conflitos bélicos, eram utilizados paraquedistas.
Entre 1941 e 1942 o Eixo avançou; todavia, os planos de Hitler foram alterados. A Guerra Relâmpago não lhe dera a conquista da Inglaterra e as relações com a URSS, entretanto, tinham-se destabilizado, a ponto da Alemanha invadir o seu ex- "aliado", na "Operação Barbaroxa", iniciada em junho de 1941, atrasada por dois meses devido a problemas nos Balcãs.
O
sucesso inicial pertenceu às forças hitlerianas, que em setembro de
1941 cercaram Leninegrado (atual S. Petersburgo) e tomaram Kiev a 19 de setembro. O general von Block saiu vitorioso nas batalhas do cerco de Minsk e em Bialystock, e, seguidamente, nas de Viazma-Briansk. Em outubro, chegava às portas de Moscovo.
A Wehrmacht,
exausta e esgotada, retirou-se então para retemperar as suas forças,
mas quando retomou as operações foi surpreendida pelo rigoroso inverno
russo. Esta campanha revelou-se um extremo fracasso para os até aí
sempre vitoriosos exércitos alemães. A ação do célebre "general inverno"
e a resistência das tropas soviéticas, foram decisivas para a derrota
nazi a leste. Os exércitos alemães, profundamente desgastados e
dizimados, foram obrigados a retirar.
A primeira grande derrota de Hitler ecoou por toda a Europa,
onde crescia o sentimento de revolta das populações contra o invasor e a
esperança renascia. Criava-se, entre os alemães, principalmente os
militares, o terrível espetro negativo da "Frente Russa", um castigo
para muitos soldados que levavam apenas "bilhete de ida"-
Em 1941 a Inglaterra
era favorecida por uma lei norte-americana votada pelo congresso, a lei
de empréstimo-arrendamento, que permitiu o envio de material para a Europa, imediatamente colocado ao serviço da Inglaterra;
nesse mesmo ano, os americanos aprovavam um plano de auxílio à URSS. A
14 de setembro de 1941, num navio de guerra no Atlântico, foi assinada a
Carta do Atlântico, entre a Inglaterra e os Estados Unidos da América, um documento onde eram propostos os objetivos da guerra e do pós-guerra por parte dos Aliados.
Nesta
fase dos acontecimentos o presidente norte-americano, Roosevelt, não
tinha o apoio da opinião pública americana, que era contra a entrada do
seu país na guerra. No entanto, esta posição mudou radicalmente com o
ataque japonês a Pearl Harbor, que fez entrar os EUA na II Guerra Mundial (7 de dezembro de 1941); a 11 de dezembro, a Itália e a Alemanha
declararam guerra aos Estados Unidos, numa altura em que a URSS adotava
uma posição de neutralidade no conflito do Extremo Oriente.
Nesta área, o Japão já tinha tomado o Sudoeste Asiático e ameaçava a Austrália. A ofensiva apenas foi contrariada pela batalha de Midway (ilhas a norte do Hawai),
em junho de 1942, em que os americanos vencem e travam o avanço
nipónico, mudando o curso da guerra do Pacífico. Com estes
acontecimentos terminava, segundo os especialistas, a fase vitoriosa do
Eixo. A partir de então, a guerra entrava naquilo a que vulgarmente se
designa "o equilíbrio de forças", um período que a longo prazo se
revelará decisivo no percurso do conflito.
O ano de 1942 foi um bom ano para o Eixo. Em julho de 1942 a Wehrmacht lançou uma nova ofensiva, conquistou a Criméia, chegou ao Cáucaso (região petrolífera) e ao Volga (minas de carvão e ferro abundantes), enquanto o Afrikakorps se aproximava do Cairo. Começava a crescer o prestígio do comandante Erwin Rommel,
encarado por todos (alemães e adversários aliados) como um superdotado e
protegido pela sorte. A tal ponto que o comando Aliado publicou
diversas ordens de serviço onde se referia, expressamente, que aquele a
quem chamavam "a raposa do deserto", era um militar como outro qualquer e passível de ser derrotado - como viria a suceder.
O Reich estava a interferir no Médio Oriente, instigando a revolta das populações árabes contra os ingleses e, juntamente com o Irão, atacava a Índia
britânica, também fustigada pelos japoneses, que dominavam a leste, a
colónia inglesa de Burma (hoje Myanmar ou Birmânia). Mas estas vitórias
quase se podem considerar o "canto do cisne" do avanço das forças
totalitárias.
Nesta altura a batalha também
evoluia no Atlântico para um conflito naval que se travava mesmo antes
da entrada oficial dos Estados Unidos na guerra. A ação dos submarinos
do Almirante Doenitz, (no fim da guerra, por uns dias, ainda sucedeu a
Hitler), os terríveis "U-Boat" (U2) foi avassaladora, afundando milhões de toneladas, entre navios de guerra e de transporte.
Mais
uma vez a tenacidade da resistência aliada, reforçada com a entrada dos
americanos no conflito e o desenvolvimento de novas armas (como as
cargas de profundidade) e táticas navais, foi decisiva para os aliados
levarem a melhor. A "limpeza" dos mares, até aí infestados de submarinos
germânicos, foi decisiva para a manutenção e intensificação de linhas
de abastecimento entre a Europa (mais propriamente entre as ilhas britânicas e as bases americanas dos Açores) e a América do Norte.
O "raid" japonês a Pearl Harbor
desorganizou momentaneamente a máquina bélica norte-americana. Contudo,
os EUA recuperaram bem com uma rápida readaptação da indústria de
guerra, a qual prontamente recompensou as perdas sofridas. Este país
assumiu a partir de então o papel de "arsenal" das potências aliadas.
O
Exército Vermelho continuava a lutar, ao mesmo tempo que os aliados
passavam ao contra-ataque bombardeando as cidades ocupadas numa Europa dominada pela Alemanha.
Esta nação era forte mas revelava fragilidades: a carência de
matérias-primas e de mão de obra eram as mais evidentes. Para as
resolver, os nazis aplicaram uma política repressiva nos países
ocupados, explorando os seus reclusos e obrigando à deportação de
milhares de pessoas para diversos campos-de-trabalho. Contudo, o
objetivo não era apenas este. Os nazis praticaram uma politica racista,
perseguindo ciganos e sobretudo judeus, em especial no leste da Europa.
Os vários milhões de pessoas deportadas não foram levadas para
campos-de-trabalho; foram conduzidas para os tristemente célebres campos
de morte - Auschwitz, Dachau, Treblinka, entre outros - onde foram pura e simplesmente exterminadas.
Do
outono de 1942 a 1945, a vitória passou a estar ao alcance dos Aliados.
Terminara a fase do equilíbrio de forças e contenção no avanço
territorial germânico e iniciava-se a última etapa do conflito: o avanço
aliado. A 23 de outubro de 1942 o general Montgomery iniciou uma contra ofensiva britânica no Egito, perseguindo as forças italianas e germânicas que se refugiaram na Tunísia.
Depois de El Alamein, "Monty" dominava o Norte de África. Para além do
génio militar deste general bem como do seu congénere norte-americano Patton,
que derrotou os italo-alemães na batalha de Kesserling, o VII exército
aliado beneficiou do desgaste do material alemão e do corte no envio de
reforços por parte de Berlim. Rommell, entretanto, é enviado para a França,
onde terá a seu cargo a supervisão da defesa da barreira atlântica
alemã ("a muralha do Atlântico") contra a eminente invasão aliada.
Em novembro, as tropas anglo-americanas desembarcaram no Norte de África francês, de onde partiu o ataque de Itália.
No final de 1942, o Exército Vermelho lançou uma operação ofensiva no
Volga, onde as forças germânicas comandadas por Von Paulus resistiram
até ao limite das suas forças, vindo a capitular a 2 de fevereiro de
1943. Neste contra-ataque soviético, deu-se a célebre batalha de
Estalinegrado (hoje Volvogrado, S. Petersburgo), confronto decisivo e
tristemente emblemático da II Guerra Mundial. De 25 de agosto de 1942 a 2
de fevereiro de 1943, os alemães ocupantes (depois da ofensiva sobre o Cáucaso)
sofreram um duro cerco dos soviéticos, perante o qual capitulam,
deixando um rasto de cerca de 300 000 soldados seus mortos. Rebentava um
verdadeiro escândalo e mau-estar entre os comandos alemães: pela
primeira vez, um general alemão, von Paulus, aceitava render-se ao
inimigo. Hitler chamar-lhe-ia "traidor". O cerco a Estalinegrado foi
mesmo considerado um dos episódios mais dramáticos da guerra. A
população soviética, abandonada à sua sorte, sofreu horrores nunca
vistos. Conta-se que, para sobreviver, muitos soldados foram levados a
alimentar-se com carne humana, dos familiares que pereceram vítimas das
balas alemãs, do frio e da subnutrição ou mesmo de soldados.
Nesse ano o Eixo perdia em todas as frentes. No Pacífico, os americanos conquistam Guadalcanal,
e estavam a preparar uma grande ofensiva. Entre o inverno e a
primavera, o Exército Vermelho prosseguiu a sua marcha, recuperou Rostov
em fevereiro de 1943, Kharkov em agosto; Donetsk e Kuban em setembro, Smolensk a 25 de setembro e Kiev a 6 de novembro.
A
24 de julho, Mussolini tinha caído nas mãos dos seus inimigos, na
sequência do desembarque dos Aliados na Sicília a 10 de julho de 1943,
enquanto a Alemanha persistia em resistir. Mussolini fora preso pelo rei, mas de seguida foi libertado pelas SS, enquanto a Itália continental era ocupada pela Wehrmacht.
A 9 de setembro de 1943, os Aliados desembarcaram em Itália, em Anzio, onde encontraram uma forte resistência. Só a 4 de junho de 1944 conseguiram tomar a cidade de Roma
depois de conquistarem o reduto nazi de Monte Cassino, cerco que também
ficou célebre tal foi a destruição e mortandade atingidas. Na tomada de
Itália, os franceses entraram de novo em grande força no conflito com um contingente das F.F.L. (Forças Francesas Livres).
Após
o encontro entre os líderes das potências aliadas, o presidente
norte-americano F. D. Roosevelt, o primeiro Ministro britânico Winston
Churchill e o secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética
(P.C.U.S.) José Estaline, efetuado na Conferência de Teerão (Irão)
entre novembro e dezembro de 1943, os ingleses e americanos prepararam
uma ofensiva militar decisiva para o desfecho deste conflito - o
desembarque na Normandia. Esta operação, de nome de código Overlord, dirigida sob o alto comando do general Dwight Eisenhower, foi preparada ao longo de meio ano.
A
Alemanha tentava aguentar a situação militar e manter o moral, mas a
guerra começava a escapar do seu controlo. Na primavera de 1944, os
russos desenvolveram uma nova grande ofensiva no vale do Dniepre.
Tomaram Odessa, a Criméia e Sebastopol, invadindo depois a Roménia e a Bulgária.
Entre
1944 e 1945, a guerra entrou numa fase que conduziria à derrota total
das forças tripartidas do Eixo. A 6 de junho de 1944 (dia D, ou J, de jour
para os franceses), as forças conjuntas inglesas e americanas
desembarcaram na costa da Normandia, onde se instalaram, para depois
penetrarem na linha defensiva alemã de Avranches a 30 de julho, que
exploraram bem, até à entrada em Paris
a 25 de agosto, passando depois para o Somme, Aisne e Marne. O segundo
desembarque das forças aliadas, desta feita franco-americano, efetuou-se
na Provença a 15 de agosto, permitindo a libertação de Toulon e de Marselha
(na França Livre, mas dominada pelos nazis), duas importantes bases
navais. À medida que se desenrolavam estes acontecimentos, ações de
guerrilha (da Resistência e dos "Maquisards") tentavam destabilizar as
forças germânicas, na retaguarda.
Era,
por assim dizer, o prolongamento de uma das facetas mais heroicas da
guerra: a da resistência nos países ocupados. O grande episódio desta
"guerra da noite" desenrolara-se por toda a França onde o "maquis" (designação de um género arbustivo típico do sul de França,
onde se localizavam os redutos dos resistentes "maquisards")
protagonizou a chamada "batalha do rail", desorganizando e sabotando o
sistema de transporte e abastecimento das tropas alemãs, através de
comboios, bem como fornecendo informações vitais aos comandos aliados.
Entre os mártires desta "guerra", citem-se, entre tantos, os nomes de
heróis como Jean Moulin ou o historiador Marc Bloch.
Mas este movimento não se resumiu à França.
Em todos os países houve quem não receasse perder a vida pela liberdade
pegando em armas contra o invasor e, neste processo, destacaram-se os
militantes dos partidos de esquerda. A título de exemplo veja-se o caso
da Jugoslávia, cuja resistência ficou, quase em exclusivo, a dever-se
aos guerrilheiros do general croata Tito (Jozip Broz). A Wehrmacht
entretanto retirava-se para as fronteiras alemãs, mas Hitler depositava
as suas esperanças na utilização de uma nova arma: as bombas V1 e V2,
usadas em 1944 no bombardeamento das cidades inglesas, a partir de bases
na Noruega e na ilha de Helgolândia.
Depois
de alguns sucessos na contraofensiva das Ardenas, os alemães foram
travados pelos norte-americanos. Na região renano-alsaciana, os
franceses ocupavam Estrasburgo em setembro, mas só acabaram com a bolsa de resistência alemã de Colmar em fevereiro de 1945.
A
frente oriental parecia estar estável, mas o Exército Vermelho
preparava a sua última grande ofensiva, concretizada a partir de 12 de
janeiro de 1945, quando tomou Varsóvia, Cracóvia, Lodz e, em fevereiro, Budapeste e Poznan.
A partir de fevereiro de 1945, a guerra chegava ao interior das fronteiras da Alemanha.
Os alemães, estupefactos, foram batidos pelos russos em Torgau, ponto
de encontro das duas frentes aliadas, no Elba, a 25 de abril de 1945. Em
Berlim, uma cidade cercada, Hitler foi informado da morte de Mussolini,
enforcado em Milão
por resistentes italianos a 28 de abril. Nesta altura, o líder nazi
havia-se refugiado num "bunker" na capital do Reich. A guerra estava
perdida. Passados dois dias Hitler pôs termo à sua vida, juntamente com a
sua companheira Eva Braun
(casados oficialmente havia poucos dias); e o novo governo foi formado
pelo almirante Doenitz, que pediu o final das hostilidades. O cadáver de
Hitler nunca foi descoberto, provavelmente por se ter transformado em
cinzas depois de cremado pelos seus esbirros. Já Goebbels, ministro da
Propaganda, sua mulher e oito filhos, que se tinham suicidado, foram
queimados, mas os corpos ainda foram encontrados reconhecíveis.
A 2 de maio, Berlim era oficialmente tomada pelos soviéticos, no mesmo dia em que as tropas alemãs eram derrotadas definitivamente na Itália. A capitulação dos alemães foi assinada a 8 de maio. Em conformidade com as determinações acordadas na Conferência de Ialta de fevereiro de 1945, a Alemanha foi então dividida em zonas de ocupação.
No Pacífico, a Guerra ainda não tinha terminado. Os americanos tinham desembarcado nas Filipinas em setembro de 1944, tomaram Manila
em fevereiro do ano seguinte e destruíram a quase totalidade da frota
japonesa na batalha naval de Okinawa em 6 e 7 de abril de 1945, às
"portas" do Japão. No arquipélago filipino, como também na China, os Japoneses criaram campos prisionais medonhos que não ficam atrás dos dos nazis em requintes de crueldade.
A guerra aqui parecia continuar porque o Japão ocupava ainda a Indonésia, a Indochina, uma parte da China
e algumas ilhas no mar Amarelo e da China Meridional. Para pôr um ponto
final nesta situação, o presidente americano mandou lançar duas bombas
atómicas sobre o Japão, uma em Hiroxima a 6 de agosto de 1945, e uma segunda em Nagasáqui
a 9 de agosto do mesmo ano (um saldo imediato de mais de 120 000
mortos). Estes dois atos levaram à capitulação dos japoneses, assinada a
14 de setembro de 1945, no couraçado americano Missouri,
estacionado na Baía de Tóquio. Do lado americano, estava o general
Douglas McCarthur, o comandante-chefe das forças aliadas no Pacífico e
que havia coordenado a guerra nesta zona desde a invasão japonesa das Filipinas no início de 1942.
A
II Guerra Mundial fez cerca de sessenta milhões de mortos, metade dos
quais civis. Para além da destruição de vidas humanas e da destruição
massiva de quase todas as estruturas produtivas europeias, este conflito
mundial provocou a derrocada dos valores da civilização ocidental,
questionados por esta onda de violência sem precedentes. Era muito
difícil superar este terrível clima de terror, que culminou com a
utilização da mais destruidora de todas as armas, a bomba atómica, ainda hoje polémica, e conheceu o horror dos horrores com a "Solução Final" nazi que foi o Holocausto (Shoah, entre os judeus).
Com
o final da guerra a tragédia não acabou; havia aproximadamente 20
milhões de deslocados, que levantavam questões de repatriamento; a
economia da Europa
estava arrasada; e os países de Leste dominados pelas forças
hitlerianas passaram a estar sob o domínio de regimes totalitários de
esquerda, centrados na URSS de Estaline, um líder brutal também.
O
Mundo estava agora dividido entre dois fortes polos de influência, os
Estados Unidos e a União Soviética. Os povos colonizados começavam a
reivindicar a sua libertação e a Alemanha deixava de ser um estado coeso, dando lugar a duas nações: a República Federal da Alemanha (Ocidental) e a República Democrática Alemã (leste). (Daqui)
Sem comentários:
Enviar um comentário