sábado, 3 de abril de 2021

"Estrangeiro" - Poema de Reynaldo Valinho Alvarez


Gustave Caillebotte (Paris, 1848-1894), A Balcony, Boulevard Haussmann, 1880
 – óleo sobre tela – 67,9 x 61 cm – coleção particular
 

Estrangeiro

 
Sou estrangeiro em todos os lugares.
Inútil procurar-te, aldeia minha.
Subo de escada todos os andares,
com a fria espada a acutilar-me a espinha.
Não sou daqui nem sou de lá. Perdi-me
na indecisão de becos e de esquinas.
Como o pardal diante do gato, vi-me
apanhado por garras assassinas.
Os mapas pendurados nas paredes
riem de mim como insensíveis redes,
rasgando os peixes que não fogem mais.
Prenderam-me entre muros que abomino
e toda a noite entoam-me seu hino
de insultos, gritos e ódios triunfais.
 in 'Galope do Tempo'
 
 
Gustave Caillebotte, Interior, Woman at the Window, 1880 
– óleo sobre tela – coleção particular


Nós Dois

Chão humilde. Então,
riscou-o a sombra de um voo.
"Sou céu!" disse o chão. 
 
(Haicai / Haikai)
 
 

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