Satélite
Fim de tarde.
No céu plúmbeo
A Lua baça
Paira
Muito cosmograficamente
Satélite.
Desmetaforizada,
Desmitificada,
Despojada do velho segredo de melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
O astro dos loucos e dos enamorados.
Mas tão-somente
Satélite.
Ah Lua deste fim de tarde,
Demissionária de atribuições românticas,
Sem show para as disponibilidades sentimentais!
Fatigado de mais-valia,
Gosto de ti assim:
Coisa em si,
– Satélite.
Manuel Bandeira,
in Estrela da Tarde, de 1960
[Estrela da tarde é livro da maturidade, obra crepuscular publicada em 1960, quando o poeta já superara a casa dos setenta anos, começava a meditar com mais profundidade na passagem desta vida para o outro lado do mistério e se mostrava convicto de ter cumprido bem a difícil missão de viver. Não é de se estranhar, pois, a presença mais ou menos obsessiva da morte, saudada com reverência, conformismo e curiosidade.]
Paul Delvaux (1897–1994) foi um pintor belga ligado à corrente surrealista. Graduou-se pela Academia de Belas Artes de Bruxelas, onde, mais tarde, seria professor durante os anos de 1950 a 1962. Iniciou pintando quase que exclusivamente paisagens e, posteriormente, dedicou-se a ensaiar uma espécie de realismo impressionista. Nos anos 30 conheceu o expressionismo flamengo, e sob a influência de Giorgio de Chirico e Magritte, uma década mais tarde, já participava de exposições surrealistas ao lado de mestres como Salvador Dali. Sua técnica, quase académica, contrasta com sua fixação por temas misteriosos e por uma materialização de um mundo onírico e pessoal, em que a mulher se transfigura num ser arcano, às vezes submetida em metamorfoses vegetais, numa atmosfera inquietante marcada por um certo erotismo.
Dentre suas obras podemos destacar: Esqueletos, Jardim Noturno, A tentação de Santo António e A Vénus Adormecida.
O Museu Paul Delvaux situado em St-Idesbald, aberto em 1982, possui uma grande coleção de pinturas do pintor surrealista belga.
Devido à perda progressiva da visão, Paul Delvaux deixou de pintar a partir de 1986, e sua última grande exposição aconteceu em Paris no ano de 1992. Faleceu em 20 de julho de 1994, aos 96 anos. (Daqui)
“O Surrealismo é destrutivo, mas ele destrói somente o que acha que limita nossa visão.”
Paul Delvaux, Les vestales, 1972
“A mente adora imagens cujo significado é desconhecido, uma vez que o próprio significado da mente é desconhecido.”
[René Magritte (1898 ―1967) foi um dos principais artistas surrealistas belgas, ao lado de Paul Delvaux.]
Joan Miró
[Joan Miró (1893 — 1983) foi um escultor, pintor, gravurista e ceramista surrealista espanhol.]
Paul Delvaux, Les Ombres, 1965
“A rebelião e apenas a rebelião é criadora de luz, e essa luz só pode tomar três caminhos: a poesia, a liberdade e o amor”.
Sem comentários:
Enviar um comentário