segunda-feira, 12 de abril de 2021

"Versos escritos n’água" - Poema de Manuel Bandeira


 
Delphin Enjolras (French, 1857-1945), The Murmur of the Sea


Versos escritos n’água


Os poucos versos que aí vão,
Em lugar de outros é que os ponho.
Tu que me lês, deixo ao teu sonho
Imaginar como serão.

Neles porás tua tristeza
Ou bem teu júbilo, e, talvez,
Lhes acharás, tu que me lês,
Alguma sombra de beleza…

Quem os ouviu não os amou.
Meus pobres versos comovidos!
Por isso fiquem esquecidos
Onde o mau vento os atirou.
(1886-1968),
 em A Cinza das Horas”, 1917
 
Concebidos ao longo de sua juventude, os poemas de A cinza das horas (1917) revelam um Manuel Bandeira já senhor de sua linguagem a vislumbrar as agruras da condição humana, criando seus primeiros poemas frente às dores do amor e da morte, do desamparo e da solidão. 
Os poemas mais tocados pela tristeza foram escritos no sanatório de Clavadel, na Suíça, onde o jovem esteve em 1913 para tratamento da tuberculose que o acompanharia pela vida inteira. Seus fortes laços familiares também estão presentes em composições que nos remetem a seus pais, sua irmã e seus avós.
Livro de estreia, A cinza das horas é a aurora criativa de um poeta que pouco a pouco depurou seu espírito e seu estilo – estilo que mais tarde o consagrou como um dos autores essenciais da literatura de língua portuguesa. (Daqui)
 

Delphin Enjolras, Two girls at pondside
 

O Pensamento

 
O ar. A folha. A fuga.
No lago, um círculo vago.
No rosto, uma ruga. 

Guilherme de Almeida,
in "Poesia Vária" 
(Haicai / Haikai)


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