terça-feira, 9 de junho de 2020

"Canto de Outono" - Poema de Ruy Belo


  Ernest De Nagy (Hungarian-American, 1881-1952), Autumn Woods and Stream.


Canto de Outono 


Os rouxinóis inexoráveis da primavera
trazidos até nós por certa curta carta
em que canto da noite cantarão agora
que já os frágeis frios vindimam?
E os lilases crudelíssimos de junho
inalteráveis como o céu das férias grandes
talvez desdobradas sobre a adolescência
de que nos valerão perante a insinuante música do outono?
E a mãe que o filho suga a ruga
que mãos estenderá sobre estes rostos
onde poisaram patas implacáveis dias?
E quando o vento verga os choupos do princípio
e despe os ramos dos plátanos familiares
faltará muito que nos cubram provisoriamente
as folhas fatigadas das desoladas árvores?
Já sobe a nossos pés o cedro do silêncio
Promete-nos o sol que sobre os nosso rostos
hão de na primavera ondular os trigos.


Ruy Belo,"Obra Poética de Ruy Belo"
Vol. 2, pág. 14 | Editorial Presença Lda., 1981 


 
Patrick William Adam, Treescape with Shepherd, 1898


Outono

 A verde folhagem
Dia a dia desbotando...
É chegado o outono!

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