sexta-feira, 12 de junho de 2020

"Fernando Pessoa" - Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen


Júlio Pomar, "Retrato de Fernando Pessoa", 1985
acrílico sobre tela, 130 x 81 cm, Casa Fernando Pessoa, Lisboa



Fernando Pessoa


Teu canto justo que desdenha as sombras
Limpo de vida viúvo de pessoa
Teu corajoso ousar não ser ninguém
Tua navegação com bússola e sem astros
No mar indefinido
Teu exato conhecimento impossessivo.

Criaram teu poema arquitetura
E és semelhante a um deus de quatro rostos
E és semelhante a um deus de muitos nomes
Cariátide de ausência isento de destinos
Invocando a presença já perdida
E dizendo sobre a fuga dos caminhos
Que foste como as ervas não colhidas.


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