domingo, 14 de junho de 2020

"O Velho do Espelho" - Poema de Mário Quintana


Bruno Liljefors (Swedish artist, 1860 –1939), Portrait of the artist’s father, 1884.



O Velho do Espelho


Por acaso, surpreendo-me no espelho: quem é esse
Que me olha e é tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto…é cada vez menos estranho…
Meu Deus, Meu Deus…Parece
Meu velho pai – que já morreu!
Como pude ficar assim?
Nosso olhar – duro – interroga:
“O que fizeste de mim?!”
Eu, Pai?! Tu é que me invadiste,
Lentamente, ruga a ruga…Que importa? Eu sou, ainda,
Aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra.
Mas sei que vi, um dia – a longa, a inútil guerra!-
Vi sorrir, nesses cansados olhos, um orgulho triste..


Mário Quintana, no livro "Poesia completa". 
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005, p. 410. 
(Poema feito em memória do pai)

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