domingo, 14 de março de 2021

"Crítica da Poesia" - Poema de Luís Filipe Castro Mendes


Franz Kline (American painter, 1910-1962), Black Reflections, 1959



Crítica da Poesia

 
Que a frenética poesia me perdoe
se a um baço rumor levanto o laço,
pois que verso não há onde não soe
a música discreta doutro espaço.

Horizonte do verso é a dureza:
já mansidão não cabe neste olhar
que se pousa na faca sobre a mesa
e aprende nela o fio do seu cantar.

Mas se olhar nela pousa, como corta?
E se as palavras sabemos retomar,
quem nos devolve a chave dessa porta
onde a herança está por encerrar?

Tão longe está de nós a poesia
como nuvem nos rouba a luz do dia. 
in "Viagem de Inverno"
 
 

Franz Kline, Untitled, 1960
 

Nada tem nexo
Tudo é apenas
Um reflexo.

(Haicai / Haikai)
 

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