domingo, 7 de março de 2021

"Joaninha" - Poema de Augusto Gil

 
Harold Harvey (English, 1874-1941), The Red Silk Shawl, 1932
 

Joaninha

                                 A Maier Garção

Descanse de quando em quando...
Passar assim toda a tarde
Sempre bordando, bordando,
Sem que um momento desista,
Até faz pena! Não lhe arde
Nem se lhe perturba a vista?... 

Descanse de quando em quando...
Erga os olhos do bordado
E veja quem vai passando.
O trabalho alegra a gente,
Mas assim, tão aturado,
— Não lhe faz bem certamente. 

Erga a carinha tranquila,
Erga esse rosto tão lindo
E veja os moços da vila
A passarem por aqui,
Uns descendo, outros subindo,
— E todos de olhos em si...

Descanse de quando em quando
E veja se escolhe algum;
Já é tempo de ir pensando
Em casar. Não é assim?...
Se não lhe agrada nenhum,
— Diga se gosta de mim. 
 
Desde os começos do outono
Que eu a trago no sentido,
Não como, não tenho sono,
Tudo me dá ralação?
Quer-me para seu marido?
— Diga que sim ou que não...
 
 
Augusto Gil,
in “Luar de Janeiro”
Estante Editora
 
 
Harold Knight (English, 1874-1961), Knitting, 1915


Opinião sobre Modas

Observei um lírio:
De facto, nem Salomão
É tão bem vestido…

Afrânio Peixoto

(Haicai/Haikai)
 
 

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