quinta-feira, 11 de março de 2021

"Saudade" - Poema de Pablo Neruda


Camille Pissarro (Danish-French, 1830-1903), March Sun, Pontoise, 1875 – óleo sobre tela,
Kunsthalle, Bremen, Germany



Saudade 
 
 
Saudade - O que será... não sei... procurei sabê-lo
em dicionários antigos e poeirentos
e noutros livros onde não achei o sentido
desta doce palavra de perfis ambíguos.

Dizem que azuis são as montanhas como ela,
que nela se obscurecem os amores longínquos,
e um bom e nobre amigo meu (e das estrelas)
a nomeia num tremor de cabelos e mãos.

Hoje em Eça de Queiroz sem cuidar a descubro,
seu segredo se evade, sua doçura me obceca
como uma mariposa de estranho e fino corpo
sempre longe - tão longe! - de minhas redes tranquilas.

Saudade... Oiça, vizinho, sabe o significado
desta palavra branca que se evade como um peixe?
Não... e me treme na boca seu tremor delicado...
Saudade... 


Pablo Neruda
, in "Crepusculário"
Tradução de Rui Lage 


Camille Pissarro, Jalais Hill, Pontoise, 1867, Metropolitan Museum of Art


"A saudade é um morcego cego que falhou o fruto e mordeu a noite."
 
 

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