segunda-feira, 29 de março de 2021

"Dorme ruazinha" - Soneto de Mário Quintana

 
Joseph Wright of Derby (Derby, 1734–1797), Bridge through a Cavern, Moonlight, 1791
 


Dorme, ruazinha


Dorme, ruazinha… É tudo escuro…
E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?
Dorme teu sono sossegado e puro,
Com teus lampiões, com teus jardins tranquilos…

Dorme… Não há ladrões, eu te asseguro…
Nem guardas para acaso persegui-los…
Na noite alta, como sobre um muro,
As estrelinhas cantam como grilos…

O vento está dormindo na calçada,
O vento enovelou-se como um cão…
Dorme, ruazinha… Não há nada…

Só os meus passos… Mas tão leves são,
Que até parecem, pela madrugada,
Os da minha futura assombração…


Mário Quintana
in 'A Rua dos Cataventos', 1940



Joseph Wright of Derby, Self-Portrait, c. 1780


Os grilos

Eles cantam a noite inteira!
Não sabias?
Os grilos são os poetas mortos…
 
 
(Haicai / Haiku)

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