sábado, 6 de março de 2021

"O impossível carinho" e "O exemplo das rosas" - Poemas de Manuel Bandeira



Gerard Chowne (British painter, 1875-1917), Honeysuckle, 1911
 
 

O impossível carinho


Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
– Eu soubesse repor –
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!

Manuel Bandeira,
in 'Bandeira de bolso: uma Antologia Poética'

Gerard Chowne, After Lunch, 1910, [Portrait group with Albert Rutherston (1881-1953)]


 O exemplo das rosas

Uma mulher queixava-se do silêncio do amante:
– Já não gostas de mim, pois não encontras palavras para me louvar!
Então ele, apontando-lhe a rosa que lhe morria no seio:
– Não será insensato pedir a esta rosa que fale?
Não vês que ela se dá toda no seu perfume?


Manuel Bandeira,
in 'Lira dos Cinquent’Anos',  1940

 


Albert Rutherston (British, 1881-1953), Self-Portrait, 1902


O Poeta

Caçador de estrelas.
Chorou: seu olhar voltou
com tantas! Vem vê-las! 
(Haicai/Haikai)
 

Segundo Goga (1988), o primeiro autor brasileiro de Haikai foi Afrânio Peixoto, em 1919, através de seu livro Trovas Populares Brasileiras, onde prefaciou suas impressões a respeito do poema japonês: 
 
“Os japoneses possuem uma forma elementar de arte, mais simples ainda que a nossa trova popular: é o haikai, palavra que nós ocidentais não sabemos traduzir senão com ênfase, é o epigrama lírico. São tercetos breves, versos de cinco, sete e cinco pés, ao todo dezassete sílabas. Nesses moldes vazam, entretanto, emoções, imagens, comparações, sugestões, suspiros, desejos, sonhos... de encanto intraduzível”.

Quem o popularizou, porém, foi Guilherme de Almeida, com sua própria interpretação da rígida estrutura de métrica, rimas e título. No esquema proposto por Almeida, o primeiro verso rima com o terceiro, e o segundo verso possui uma rima interna (A 2ª sílaba rima com a 7ª sílaba). (Daqui)
O modelo de haikai produzido por Guilherme de Almeida foi cunhado de “modelo Guilhermino.”
 
 

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