Lucian Freud, The Painter's Room, 1944, óleo sobre tela, 62,2 x 76,2 cm, coleção particular
Sim, talvez tenham razão
Sim, talvez tenham razão.
Talvez em cada coisa uma coisa oculta more,
Mas essa coisa oculta é a mesma
Que a coisa sem ser oculta.
Na planta, na árvore, na flor
(Em tudo que vive sem fala
E é uma consciência e não o com que se faz uma consciência),
No bosque que não é árvores mas bosque,
Total das árvores sem soma,
Mora uma ninfa, a vida exterior por dentro
Que lhes dá a vida;
Que floresce com o florescer deles
E é verde no seu verdor.
No animal e no homem entra.
Vive por fora por dentro
É um já dentro por fora,
Dizem os filósofos que isto é a alma
Mas não é a alma: é o próprio animal ou homem
Da maneira como existe.
E penso que talvez haja entes
Em que as duas coisas coincidam
E tenham o mesmo tamanho.
E que estes entes serão os deuses,
Que existem porque assim é que completamente se existe,
Que não morrem porque são iguais a si mesmos,
Que podem mentir porque não têm divisão [?]
Entre quem são e quem são,
E talvez não nos amem, nem nos queiram, nem nos apareçam
Porque o que é perfeito não precisa de nada.
4-6-1922
Alberto Caeiro, in “Poemas Inconjuntos”
(Heterónimo de Fernando Pessoa)
Lucian Freud (Berlim, 8 de dezembro de 1922 - Londres, 20 de julho de 2011) foi um pintor nascido na Alemanha e naturalizado britânico em 1939.
O seu pai, Ernst, era o filho mais novo de Sigmund Freud.
No ambiente de uma família judaica não praticante, rodeado pelo
conforto burguês, Freud viveu uma infância calma livre para dar azo à
sua imaginação. Passou a viver em Inglaterra
desde 1933, quando a família fugiu à ascensão nazi, e naturalizou-se
inglês em 1939. De 1938 a 1943 frequentou a Central School of Art, o
Goldsmith's College, Londres e a East Anglian School of Painting and Drawing, Dedham, dirigida por Cedric Morris.
Alistou-se na Marinha Mercante durante a Segunda Guerra Mundial, mas foi ferido em 1942, dedicando-se a partir daí exclusivamente à pintura. Passou um ano a viajar pela França (Paris) e Grécia, mas a maior parte da sua vida e da sua carreira foi passada em Paddington, Londres, área cujas características sombrias se refletem em algumas das suas obras que representam interiores e paisagens urbanas. Durante os anos quarenta o seu interesse principal foi o desenho, especialmente a face, usando, ocasionalmente, um estilo deformado reminiscente de George Grosz.
Terminada a guerra e com os perturbantes anos da adolescência para trás, Freud iniciou uma busca pelo retrato ilusório retratando incessantemente a sua primeira mulher Kitty. Após o divórcio, continuou a mesma procura, pintando repetidamente a sua segunda mulher, Caroline, assim como vários amigos pintores. Os resultados eram sempre desconcertantes sugerindo a crise existencial que conduziu a obra de Freud durante este período. Exemplo disso é a obra intitulada Interior, Paddington (1951), que ganhou um prémio na Inglaterra.
Em 1956, chegou à conclusão que os seus retratos solitários necessitavam ser livres, começando, então, a explorar as técnicas expressionistas do chiaroscuro que irá iluminar as suas figuras de novas perspetivas. No entanto, a sua procura da figura livre só será plenamente conseguida na altura em que Freud começou a explorar o retrato do nu feminino, em 1966. O nu feminino permanece a forma mais poderosa e subversiva do seu trabalho e na qual Freud exerceu toda a sua criatividade. Sendo o sujeito, amigo, amante, parente ou um dos seus três filhos, Freud parece celebrar o corpo nu como um todo, coberto de vida e luz apenas descoberto na honestidade da carne feminina.
Em 1977, Freud começou a dedicar-se ao nu masculino. Apesar das figuras vestidas ainda dominarem a maior parte do seu trabalho, Freud desenvolveu grande interesse pela forma masculina realista. A obra Man with Rat (1977) iniciou uma rigorosa investigação dos melhores meios de comunicar a realidade. Em vez de pintar o homem sem idade e congelado, Freud opta por representá-lo parado num dado momento, em quieto repouso. Esta captura do homem realista sugere uma necessidade para o observador de testemunhar a pessoa trabalhadora contemporânea, moderna, no seu próprio espaço, reclinado numa cama, ou num dos muitos sofás de Freud. O melhor amigo do homem, o cão, também aparece muitas vezes representado na mesma posição, acompanhando o sujeito. Não se pode falar sobre a pintura de Freud do nu masculino sem mencionar um dos seus sujeitos preferidos, o artista de performance Leigh Bowery. Os dois conheceram-se numa galeria londrina em 1990 e pouco tempo depois começou a pintá-lo. Bowery posou para Freud dezenas de vezes durante quase quatro anos, altura em que este morreu.
Lucian Freud realizou inúmeras exposições retrospetivas da sua obra em todo o Mundo. Assim como o seu patronímico é citado em quase todos os ensaios sobre crítica cultural, o trabalho de Lucian Freud gera uma grande quantidade de atenção e respeito. É considerado o grande e único pintor realista do século XX. (Daqui)
O Boémio
Cigarro apagado
no canto da boca, enquanto
passa o seu passado.
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