sábado, 20 de março de 2021

"O Poeta" - Poema de Raimundo Correia

 
Gustave Caillebotte, A Man on a Balcony, c. 1880, óleo sobre tela, 
116 x 97 cm, coleção particular


O poeta          

                                         A Alberto Oliveira

Poeta! É mister que o poeta, ele, em cuja linguagem
há torrentes lustrais e bálsamos fragrantes;
Ele que encanta, embora os cépticos o ultrajem,
As crianças, as mães, os tristes e os amantes;

Ele que erra na plaga, onde em flechas radiantes,
o sol do estro a surdir purpureja a paisagem,
E onde bailam cantando as estrofes cambiantes,
- Aves de voz de prata e irisada plumagem;

É mister que ele, o poeta, o cismador, o brando,
Ele que ri, também ruja de quando em quando,
Implacável, cruento, enraivecido, atroz!

Assim na selva em flor, esplêndida e ridente
E verde e silenciosa, atroa de repente
Um berro de animal carnívoro e feroz.

in 'Sinfonias' (1883)
 
 
 
Gustave Caillebotte, Dans un café, 1880, Musée des Beaux-Arts de Rouen


Poetas

 
Tive uma irmã gémea.
Sonhou com o céu. Chorou.
Nuvenzinha boémia.
 
Guilherme de Almeida,
(Haicai / Haikai)


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