quinta-feira, 4 de março de 2021

"Estátua Falsa" - Poema de Mário de Sá-Carneiro


 
Giorgio de Chirico, Metaphysical Interior with Biscuits, 1916,  óleo sobre tela
81,3 x 65,1 cm, The Menil Collection, Houston, Texas



Estátua Falsa 
 
Só de ouro falso os meus olhos se douram;
Sou esfinge sem mistério no poente.
A tristeza das coisas que não foram
Na minh'alma desceu veladamente.

Na minha dor quebram-se espadas de ânsia,
Gomos de luz em treva se misturam.
As sombras que eu dimano não perduram,
Como Ontem, para mim, Hoje é distancia.

Já não estremeço em face do segredo;
Nada me aloira já, nada me aterra:
A vida corre sobre mim em guerra,
E nem sequer um arrepio de medo!

Sou estrela ébria que perdeu os céus,
Sereia louca que deixou o mar;
Sou templo prestes a ruir sem deus,
Estátua falsa ainda erguida ao ar... 
 
 in 'Dispersão', 1914
 

Giorgio de Chirico, Great Metaphysical Interior, 1917, oil on canvas, 
95.9 x 70.5 cm, Museum of Modern Art, New York
 

Pintura Metafísica


Pintura Metafísica (Pittura Metafisica) pretende designar uma tendência da pintura do século XX, representada por vários artistas, entre os quais se destacam os italianos Giorgio de Chirico e Carlo Carrá e o artista belga Paul Delvaux. De Chirico foi a figura mais emblemática e o líder deste movimento, tendo fundado também a revista Pittura Metafisica em 1920 que se assumiu como o orgão de divulgação deste movimento.
A Pintura Metafísica recusa a arte abstrata e contrapõe-se às correntes Futurista e Cubista, em desenvolvimento naquela altura. Apesar das diferenças da produção artística de cada um dos pintores deste movimento, é possível identificar algumas características comuns, como a fixação em representações figurativas com referências à arte clássica; a recusa da expressão do movimento; o afastamento relativamente à estética industrial ou ligada à máquina; a procura de objetos do quotidiano e de espaços urbanos para criar um universo misterioso.
De Chirico, assim como o conterrâneo Carlo Carrá manifestam uma clara preferência pela representação de espaços urbanos e de edifícios, em acentuadas perspetivas e com grandes contrastes de luz e sombra. São famosas as suas pinturas de praças vazias e povoadas por figuras e objetos misteriosos onde ressalta a impressão de imensidade, de solidão e de imobilidade, ressaltando a influência de alguns filósofos como Nietzsche, Kant e Schopenhauer. Algumas pinturas eróticas de Paul Delvaux revelam ainda a absorção de teorias ligadas à psicologia e ao subconsciente.
A Pintura Metafísica foi uma das correntes precursoras do movimento surrealista, formado a partir dos anos 10. (Daqui)

 

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